Nos últimos dias, me deixei levar pela máxima primeiro vive, depois posta e acabei focando tanto em viver que deixei tudo o que estava programado para este lugar gostosinho virtual que eu mesma criei de lado. A verdade é que viver tudo o que vivi foi lindo, intenso e necessário. O desejo era poder congelar o momento e juntar peças que estavam de fora para continuar naquele instante que já havia passado antes mesmo do fim dessa frase.
Continuo vivendo, claro. Mas não daquele jeito. Agora é a vida real, cheia de coisas a fazer. Rotina, correria, casa, trabalho, filho, eu mesma. Tanta coisa.
Para quem não sabe, estive em Bolonha, a trabalho. Fui para a Bologna Book Fair. A minha primeira experiência em uma feira de livros internacional. Uma semana só e já foi suficiente para sentir tanta coisa. Tanto que, na minha volta, entrei numa espécie de ressaca e quase decidi - mais uma vez - deixar isso aqui de lado. Quem se importaria?
Descobri que tem gente que se importa, sim: Malu, cadê o e-mail? Parou de escrever? Não parei. Tava vivendo, no offline, longe daqui. Bolonha foi desses parêntesis que a gente abre na rotina e fica com dificuldade de fechar, sabe? Teve uma infinidade de trabalho, coisas novas, mil e um livros interessantes para ver, encontro com muita gente querida - as conhecidas e as novas -, capuccino, tortelini, tagliatelle, lasagna, bolognesa, gelato, reuniões mil, inglês, espanhol, italiano, saudade - sentida e matada. Tanta coisa que a vontade de voltar para cá se fez exatamente com a mesma coisa que me fez ficar longe daqui: vivi a Itália e agora voltei para me lembrar de lá e voltar pra cá.
Já deu para perceber que uma feira de livros é muito mais do que uma agenda cheia de reuniões, né? Antes de chegar lá, eu não pensava assim, no entanto. Aliás, muita coisa do que eu pensava deixou de ser verdade ao pisar os pés no pavilhão da feira. E, por isso, listo as minhas percepções:
As reuniões são importantes, sim. E saber montar uma agenda é parte fundamental da viagem. Sem isso, você acaba se perdendo e não consegue se deslocar para cumprir os horários.
Andar entre uma reunião e outra é regra. Olhar para o lado e ver o que os stands estão mostrando pode nos revelar boas surpresas. Parar e pedir para conversar, inclusive, pode ser uma boa ideia.
Aliás, andar é o que a gente mais faz. Priorize sapatos confortáveis.
Lembrar que as reuniões são encontros com pessoas com quem falamos quase que diariamente por e-mail é uma boa ferramenta para quem está com alguma insegurança com relação ao idioma - meu caso.
E conhecer as pessoas que estão por trás das telas é uma das partes mais divertidas de todo o evento. Parece que humaniza, sabe? Dá um rosto a quem a gente só conhece pela escrita.
Muita coisa - muita coisa mesmo - acontece fora das reuniões. Palestras, bate-papo, workshop, oficina, lançamento de livro. Conseguir espiar uma coisa ou outra é um bom refresco para descansar dos assuntos de negócios.
Poder ver os livros que, em geral, só veríamos por PDF muda toda a nossa percepção. É o tal ver com as mãos que, em se tratando de literatura infantil, faz muita diferença.
Ver o que os outros países estão fazendo em matéria de livros, ilustrações e histórias é inspirador. Faz a gente voltar com a mala cheia de ideias e vontade de colocá-las em prática.
Livro é livro em qualquer lugar do mundo e, não importa o idioma, gera uma conexão gigante entre as pessoas.
Para além da feira, a cidade é uma festa. E muita coisa acontece também voltada para o universo dos livros. Logo, vale a pena dedicar mais uns quilômetros e tempo para conhecer Bolonha.
A comida da feira não é das melhores e é cara. Mas vale dizer que é a comida ruim na Itália, onde até o que é ruim é bom. Então, nem pense em achar que é o ruim estilo Bienal porque está bem longe disso.
Por fim, não ouvi de uma ou duas pessoas, mas de muitas, a Bologna Book Fair é a melhor de todas as feiras. E, bom, como eu só conheço essa, sou obrigada a concordar!
É claro que nem só de feira de livros se fez essa viagem, mas para encerrar essa ressaca virtual, resumir o que foi a feira já é suficiente. Tão bom mudar de ideia, né?
Deixo para depois as reflexões e sensações de uma mãe que se viu pela primeira vez longe do filho e quase morreu de saudade, mas também não se aguentou de tanta felicidade por estar sozinha depois de tanto tempo.
A partir de agora, os textos voltarão a ser entregues com a mesma periodicidade - a tal da constância e tal - e a gente vai seguir desatando e atando esses nós que dão forma à nossa existência.
P.S.: logo entrego a novidade que anunciei e saí correndo.